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Clipping: Setor cervejeiro de SC cresce apesar da pandemia e assume protagonismo no Brasil

ENTRE MALTES E LÚPULOS
Setor cervejeiro de SC cresce apesar da pandemia e assume protagonismo no Brasil
Por Augusto Ittner augusto.ittner@somosnsc.com.br

Estado se tornou o que mais tem cervejarias por habitantes no país; crescimento de 18,2% ocorreu em meio à desconfiança econômica devido à Covid-19

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Fábrica da Container, cervejaria de Blumenau.
(Foto: Patrick Rodrigues)

Resiliência e criatividade. Pode soar até meio clichê, leitor, mas essas são duas palavras que resumem como o setor cervejeiro de Santa Catarina precisou encarar o ano de 2020.

Depois de um início de pandemia conturbado, regado a angústia por parte dos empresários, o segundo semestre indicou recuperação — mesmo sem que houvesse uma luz intensa no fim do túnel quanto à plena retomada econômica.

Prova disso foi que no ano passado a indústria da cerveja artesanal catarinense se manteve em plena atividade. E mais: fez com que o Estado se tornasse a unidade da federação com mais cervejarias por habitante no Brasil.

Esse dado, que consta no Anuário da Cerveja do Ministério da Agricultura, expõe, na prática, que as cervejarias de SC assumiram protagonismo perante uma crise que assolou segmentos como bares, restaurantes e eventos.

Em um cenário de restrições — principalmente aquelas que pegaram de surpresa os empreendedores entre março e maio do ano passado —, a missão de manter os negócios funcionando fez com ideias, das mais mirabolantes às mais óbvias, tivessem de ser tiradas do papel. Em um claro instinto de sobrevivência, sócios de cervejarias usaram do improviso e superaram 2020.

Mas como?

— A missão foi nos mover e tomar decisões rápidas. A forma de consumo mudou. Com o fechamento de bares e restaurantes, as pessoas passaram a beber cerveja dentro de casa. Nós então tivemos de mudar a comercialização, dando um olhar aos mercados em vez de bares. Migrar para um canal novo de vendas dá trabalho, mas nós conseguimos fazer isso e queremos colher frutos a partir do ano que vem — aponta Daniel Reginatto, diretor da Container, de Blumenau.

Informações do governo federal mostram que há uma cervejaria para cada 41.443 habitantes em SC. É a primeira vez que o Estado passa o Rio Grande do Sul, que agora ocupa o segundo lugar com uma fabricante da bebida a cada 44.275 moradores.

daniel reginatto dono da container blumenau_1Daniel Reginatto, diretor da Container, de Blumenau.
(Foto: Patrick Rodrigues)

“Cenário de otimismo”

O Sul domina o topo do ranking, com o Paraná na terceira posição — índice de 78.882. Dos dados que constam no Anuário, chama a atenção ainda o fato de Blumenau ocupar a quinta colocação entre as cidades que mais registraram rótulos no ano passado — atrás apenas de São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Itupeva (SP) e Curitiba (PR). Foram 208 novas receitas e estilos produzidos.

— É um cenário de otimismo. É oportunidade. Por que tem tantas cervejarias nascendo no Sul e no Sudeste? É um fator de mercado. Há uma condição financeira nesses dois centros que permite isso. Poder aquisitivo, emprego. Não é por acaso. Só se instala uma cervejaria onde há oportunidade de se desenvolver, de crescer — analisa o empresário Valmir Zanetti, sócio de um bar especializado em cervejas artesanais e diretor da Cerveja Blumenau.

Longe dos grandes e glamourosos centros de produção cervejeira de Santa Catarina, uma marca de São Miguel do Oeste teve de buscar soluções caseiras para amenizar o tombo no faturamento.

“Consumidor mudou local de consumo”

A produção de barris, por exemplo, que representava 50% de todo o volume de vendas, foi zerada. Literalmente. Sem ter como escoar para bares, restaurantes e eventos, a cervejaria parou de envasar em “kegs” e focou em garrafas e pet growlers — refil em garrafas pet, usando uma expressão abrasileirada.

— A mudança de comportamento do cliente, que não deixou de consumir o produto e apenas mudou o local de consumo, acabou nos trazendo a solução. Focamos nos supermercados, passamos a atender em regiões em que não atuávamos, fomos para o Paraná, Rio Grande do Sul, Litoral de SC. O fim de ano, que achamos que seria tenebroso, foi bom — sustenta Diovana Strieder Schacker, sócia proprietária da Big John.

carlo bressiani escm_1Carlo Bressiani, diretor da ESCM.
(Foto: Facebook, Reprodução)

Especialista no mercado cervejeiro, o diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte, Carlo Enrico Bressiani, endossa a análise de Diovana. O entendimento é de que o setor sofreu com o cenário adverso entre março e maio, mas que o segundo semestre apontou para uma condição mais animadora, apesar de “não ter a pujança” comparada ao ano anterior, como ele mesmo descreve o contexto.

— Quem atende mercados não sofreu tanto. Já quem atendia regionalmente, como os brewpubs, teve de fazer ações na comunidade, drive-thru, delivery e de modo geral conseguiu se virar. Mas aqueles que ficaram no meio termo são os que levaram porrada de tudo quanto é lado. O que vendia barril, por exemplo, a bares ou festas, foi quem mais penou — avalia Bressiani.

“Luta incansável de sobrevivência”

Mas a cautela se mantém. Com o trauma do primeiro semestre de 2020, as novas ondas que surgem da Covid-19 e o ritmo lento de vacinação, os empresários do setor cervejeiro ainda acumulam desconfiança quanto àquilo que vem pela frente. Zanetti, por exemplo, exemplifica a conjuntura com a dificuldade que as cervejarias tiveram no início de manter as contas em dia. Ele evita, também, romantizar a crise.

— Foi uma luta incansável de sobrevivência, dia a dia. Cortar despesas, priorizar pagamentos, negociar com fornecedores, credores, alongar compromissos, fazer o básico, o necessário. Houve redução nas vendas e uma disputa insana de mercado com as grandes cervejarias – afirma o empresário.

— Quem teve caixa, se manteve, mas de uma forma geral houve endividamento das empresas. Temos de ter paciência, por ser uma situação passageira — projeta Reginatto.

Novos negócios e investimentos

Santa Catarina tinha 148 cervejarias registradas em 2019. Um ano depois, mesmo com a aceleração da pandemia no Brasil, o número saltou para 175 — saldo positivo de 27 novas fabricantes da bebida, o que representa um crescimento proporcional de 18,2%.

Esse percentual coloca SC com o maior salto entre os cinco maiores produtores, igualado a São Paulo, que também registrou uma alta de 18,2% de novas marcas. O índice é superior ao Brasil, que teve 14,4% de aumento, com 1,3 mil cervejarias.

Na prática, mesmo com a crise sanitária, os empresários decidiram investir e abrir novos negócios no setor.

O especialista em mercado cervejeiro, Carlo Bressiani, avalia que as microproduções relacionadas aos brewpubs ajudaram nesse indicador. Um brewpub, vale lembrar, nada mais é do que um bar que produz a própria cerveja para ser consumida no local, e não necessariamente a envasa para venda em outros pontos — como supermercados, por exemplo.

A flexibilização da legislação quanto a esse segmento potencializou a abertura de novos negócios.

— Antes os brewpubs, apesar de terem produção menor, eram configurados como indústria e não podiam se instalar em regiões centrais, por exemplo. A mudança na lei e a ajuda do poder público neste sentido ajudaram — analisa Bressiani, ao se referir a um projeto do ex-vereador Sylvio Zimmermann (PSDB), de Blumenau, que desburocratizou a instalação de microcervejarias — algo pioneiro no Estado. Outras propostas semelhantes também foram apresentadas anos depois em cidades como Jaraguá do Sul e Canoinhas, ambas no Norte, e Itajaí, também no Vale.

No rol de cervejarias que optaram por fazer investimentos no ano passado, mesmo com as incertezas, está a OnBier, de Florianópolis. Hoje uma cigana — ou seja, com produção terceirizada —, a empresa passou por sustos no segundo trimestre. O baque do coronavírus e das restrições abalou em um primeiro momento, mas mesmo assim a marca arriscou ao reformular o bar em Santo Antônio de Lisboa.

west coast ipa on bier floripa_1Opções em lata, saída da OnBier para gerar faturamento na crise.
(Foto: Reprodução. Instagram)

Esse investimento estrutural veio junto com a inserção de rótulos em lata nos mercados, estratégia da empresa para garantir faturamento. O resultado: projeção de novos aportes de recursos para 2021 e até de abertura de uma fábrica própria.

— Estamos em atividade desde novembro do ano passado. O cenário começou a melhorar, ainda não estamos com o faturamento alvo, mas vemos que iniciou uma tendência de subida no movimento — afirma Pedro Bittencourt Lima, cervejeiro da OnBier.

Com a demanda por consumo e a ampliação do mercado, a Big John, de São Miguel do Oeste, também foi forçada a mirar investimentos para dar conta da produção.

Diovana, diretora da empresa, relata o quão difícil é para o empresário projetar esse gasto de dinheiro olhando a longo prazo nesse atual momento, mas exalta as saídas encontradas na crise para ampliação dos negócios.

— Investimentos a gente faz para dois, três, cinco, 10 anos… Mas na pandemia nós normalmente não sabemos o que fazer semana que vem. Ainda mantemos cautela, sim, mas temos um planejamento traçado. Vamos dobrar a produção neste ano, com pés no chão, para chegarmos a 180 mil litros por mês — aponta Diovana Strieder Schacker.

Número de cervejarias por estado

São Paulo – 285

Rio Grande do Sul – 258

Minas Gerais – 178

Santa Catarina – 175

Paraná – 146

Rio de Janeiro – 101

Espírito Santo – 41

Goiás – 33

Bahia – 26

Rio Grande do Norte – 20

Ceará – 16

Mato Grosso – 15

Pernambuco – 14

Distrito Federal – 11

Pará – 12

Mato Grosso do Sul – 9

Maranhão – 9

Paraíba – 8

Alagoas – 7

Amazonas – 5

Tocantins – 3

Piauí – 3

Sergipe – 2

Roraima – 2

Amapá – 2

Roraima – 1

Acre – 1

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